Mesmo importando - sem querer - algumas mazelas das grandes cidades, como o uso de drogas, nas pequenas cidades dos sertões brasileiros ainda é possível se presenciar a solidariedade humana, que costumo definir como solidariedade-irmã em alusão a quase um conceito definido por um grande humanista, meu amigo Corbeniano de Assis Bastos, filho de Riachão, no sul maranhense, casado com a médica Ana Maria Sarney e há anos radicado em São Luís. Para ele, meu mestre maçom, nós do interior vivemos melhor, mas também sofremos mais, inclusive quando morre alguém, que sequer é nosso parente consanguineo, mas o é pelos laços solidários e fraternos do conhecido, ou seja, nas pequenas comunidades do interior brasileiro, mais precisamente do nordeste, todos conhecem todos, portanto, no final todos sorriem ou choram juntos.
Ontem, no início da tarde, presenciei uma cena digna da solidariedade interiorana. Eu me encontrava com amigos embebecido com as águas majestosas do rio Parnaíba aumentando de volume com as chuvas intensas em suas cabeceiras e de seus afluentes. O vermelho do vermelho lindo tão bem cantado em versos pelo maior poeta da terra, o alto-parnaibano Luiz Amaral, iam crescendo, crescendo e já levando espumas. De repente, meu primo, compadre e grande amigo, Ivan Brito Filho, atualmente dono do mais tradicional bar de Alto Parnaíba, o Bar Victória (com essa grafia mesmo - o c mudo antes do t herdado do primeiro nome de nossa terra), em sucessão ao avô Candim Brito e ao pai, Ivan Brito, nos alerta de que uma mulher teria se jogado no rio, após entrar na canoa como se fosse para Santa Filomena, do lado piauiense.
Ao mesmo tempo em que disse isso, o disposto Ivan, acompanhado pelo não menos solidário e de fácil iniciativa, meu amigo Jean Pereira Rosa, correu pela margem do Velho Monge e nos fundos do quintal da histórica casa que pertenceu a Aderson Lustosa do Amaral Brito, e onde também funcionou por anos um centro espírita kardecista liderado pelo saudoso homem cordial, encontrou a dita senhora agarrada em árvores, com metade do corpo dentro d'água e praticamente desmaiada. A equipe do sargento Josicleber Oliveira tambén chegara rapidamente ali.
O canoeiro não prestou socorro. Com nítida intenção de se suicidar, a senhora, que prefiro não dar o nome, saíu do distante bairro Santo Antonio e escolheu as águas do grande rio para dizer adeus. Este, justo e majestoso, sob o olhar atento de alguém que nasceu e jamais saíu de suas margens, cujas calçadas da casa e do bar são o próprio rio, não permitiu que também aquela ribeirinha do Parnaíba desse cabo da própria vida.
É a prova de que da união do sertanejo parnaibano com o seu rio faz este continuar a viver e a manter a vida de seus semelhantes.
sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011
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Caro Dr. Décio
ResponderExcluirEstive presente contigo e constatamos a falta de solidariedade humana não salvando aquela senhora do afogamento. Infelizmente isso ainda acontece em comunidades pequenas como a nossa onde todos são "vizinhos". Parabéns pela matéria, onde o título, com certeza, faz parte da nossa realidade interiorana.