quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

PIZZA E AZEITE

Como de costume, o Brasil, cuja República foi instaurada às pressas e face às indecisões dementes do imperador e do marechal proclamador, atravessa mais um escândalo de corrupção no centro do poder político e institucional da nação.

O chamado mensalão do DEM do Distrito Federal, cujas imagens e sons do reincidente governador Arruda e asseclas recebendo dinheiro vivo e de origem escusa dizem muito mais do que o rabo de palha do presidente Lula permite, se repete diariamente na grande maioria das prefeituras do país, e todos sabem disso.

Será que vai terminar em pizza? Pergunta comum da mídia, da sociedade civil e do povo nas ruas Brasil afora. Em pizza é pouco. Relendo o MEU LIVRO, do poeta, contista, missivista, jornalista, professor e escritor Luiz Amaral, da minha terra, reecontro uma de suas melhores cartas, dirigidas ao político, fazendeiro e empreendedor José Soares, o Zuza, seu adversário político, porém irmãos de ordem maçônica e fraternos amigos, em que relata a compra de um azeite a um certo "turco", em 1944, e seu desastroso transporte em lombo de jumento pela chamada estrada do sal, entre Alto Parnaíba, então Victória, no extremo sul maranhense, e Lizarda, na época Boa Sorte, no norte de Goiás e hoje Tocantins.

Na realidade, a carta não diz da política de então, com certeza os sucessivos escândalos de corrupção na política e na vida pública do Brasil não viram pizza, um prato saboroso, viram azeite em carga de burrico (azeite com beiju e bolo frito é uma delícia nossa), pois melados, tal azeite, na boca de todos no início, no final lambuzada fica a população brasileira.

Eis a missiva:

"CARTA A JOSÉ SOARES

(Caminho do Pium, no terreiro da morada Cutias, perto de Boa Sorte (hoje Lizarda), no intervalo do almoço ao café, enquanto o portador - um sr. que passava para Vitória - esperava já montado. A notícia do bom preço no garimpo animou-se a comprar do carcamano Elias Carnib duas cargas de azeite de coco e levá-las com outros artigos que devia levar para vender lá).

MEU CARO AMIGO SOARES,
NÃO LHE ESCREVO POR DELEITE,
NEM QUERO NO QUE LHE ESCREVO
LITERATURA OU ENFEITE
QUERO CONTAR SIMPLESMENTE
UM SIMPLES CASO DE AZEITE

OUÇA O QUE VOU LHE DIZER
E GUARDA BEM NA LEMBRANÇA:
ENTRE MÁQUINA E JUMENTO
HÁ GRANDE DESSEMELHANÇA
MÁQUINA, COM AZEITE CORRE
JUMENTO, COM AZEITE, CANSA

NÃO SEI BEM O QUE EU ESTAVA
SE ERA BESTA OU SE ERA LOUCO
NÃO FOSSEM OS MEUS TRINT'ANOS,
DIRIA QUE ESTAVA BROCO,
QUANDO COMPREI AO CARNIB
AQUELE AZEITE DE COCO

O BICHO MELA O JUMENTO
DA CABEÇA ATÉ O RABO
JACÁS, CANGALHAS, E O RESTO
ALISAM QUE NEM QUIABO
E FICA TUDO FEDENDO
TANTO QUANTO OU MAIS QUE O DIABO.

AZEITE! - DIGO E SUSTENTO
NÃO DÁ CERTO COM JUMENTO
AZEITE! - AINDA REPITO
SÓ PRESTA COM BOLO FRITO

CONDUZIR AINDA AZEITE
AINDA EXPERIÊNCIA ME PROÍBE
E DEUS BENZA QUE MAIS NUNCA
ME ENCONTRE COM ELIAS CARNIB" (páginas 197 e 198).

O povo brasileiro não é jumento, é feito de burro. Todos nós estamos cansados, igualzinhos o heróico jumento carregando o azeite. Chega de tolerar e carregar nas costas e no bolsos essas quadrilhas que infestam, empobrecem e apodrecem a nação em todos os seus recantos. É preciso reagir. É preciso se indignar e se levantar contra a impunidade que se encontra enraizada desde a formação do país. Ainda é tempo.

Um comentário:

  1. Neste ano foi cassado o governador do Tocantins, o do Distrito Federal está para sofrer o impeachment. Políticos sem compromisso com a sociedade não deixaram de existir, mas pelo menos estão deixando de estarem impunes.

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