terça-feira, 30 de março de 2010
DE LONGE, A ADMIRAÇÃO
Desde criança e por incentivo paterno, passei a disputar com meus irmãos a prelazia de ler em segundo lugar as notícias trazidas pela melhor imprensa escrita do nosso país, cujos jornais chegavam na velha capital maranhense nos finais da tarde e íamos, quase em procissão familiar, comprá-los na Praça João Lisboa, quase sempre na banca de seu João, um velhinho simpático e conhecido antigo de meu genitor. Assim como os diários, as revistas semanais - Manchete, Veja, Istoé.
Meu pai era um apaixonado pela leitura e mesmo não entendendo de futebol, lia Armando Nogueira, a quem aprendi a ler e a admirar na distância que deve manter o leitor de seu autor. A coluna "Na Grande Área" era uma delícia, juntando a isso o gosto que tenho pelo futebol e pelos esportes de um modo geral. Armando Nogueira, que morreu ontem, não era apenas o comentarista de futebol, o amante dos esportes, mas o jornalista-crônista, ameno sem polêmicas, porém firme em suas convicções e maestro no uso primoroso das palavras, encaixando-as em frases sobre os quais o delite de ler ou ouvir não permitiam uma análise acadêmica nem dos mais mais chatos intelectualizados.
Mesmo distante e sem ter conhecido pessoalmente Armando Nogueira, senti a sua morte, que também é o passamento daquilo de melhor que este país produziu. Armando Nogueira foi sem dúvida alguma útil ao Brasil, mesmo com todas as restrições que minha mocidade me permitiu que fizesse contra a parcialidade e a omissão do Jornal Nacional em todos os governos, quando acreditava, com os demais companheiros estudantes, que se Cid Moreira decidisse, ao vivo para milhões de brasileiros, ao invés de ler as notícias rotineiras e de interesses do presidente de plantão, denunciar as torturas, a corrupção, o êngodo, o atraso econômico e social, a miséria e a fome, o Brasil teria alguns segundos ou pouco minutos de glória verdadeiramente revolucionaria. Entretanto, só valeria se o texto fosse do Armando Nogueira, no mesmo canto dos dribles de Garrincha e da arte singular de Pelé.
RECUPERAÇÃO DA CIDADE
Minha cidade é pequena, porém, mesmo em tempos passados, sempre foi exemplo de limpeza e urbanismo - principalmente do calçamento das ruas com pedras de paralelepípedos -, nunca ficou tão feia como atualmente, com o mais completo abandono das principais artérias públicas de Alto Parnaíba.
A missiva diz tudo. Vejamos:
"Of. 005/2010-PDT/AP/MA – Alto Parnaíba/MA, 26 de março de 2010.
A Sua Excelência o Senhor
Doutor ERNANI DO AMARAL SOARES
Digníssimo Prefeito
Alto Parnaíba/MA
Senhor Prefeito,
Conforme discutido e decidido em convenção, o PDT municipal, considerando que o governo de Vossa Excelência alcançou maturidade em face de mais de um ano de mandato e tendo em vista a situação caótica em que se encontram ruas, praças e avenidas de nossa cidade, que exige pronta reação, por via de obras emergenciais, planejadas e eficazes de responsabilidade da Prefeitura, se dirige ao chefe do Poder Executivo do Município, responsável e gestor da administração pública, de início administrativamente, com as seguintes reivindicações, em nome de nossos filiados e, com certeza, da grande maioria da população alto-parnaibana.
1 - Dirigir e andar em nossas ruas tornou-se um sufoco, mais precisamente na maioria dos trechos da avenida Prefeito Antonio Rocha Filho e rua Capitão Daniel Brito, no bairro São José; ruas Prefeito Elias Rocha e Presidente Juscelino Kubitschek, no Santa Cruz; avenida Governador José Sarney, no Prata e Santa Cruz; avenida Goiás, no Santo Antônio; avenidas Rio Parnaíba, Prefeito José Soares, Intendente Odonel Brito e Poeta Gonçalves Dias, a partir da beira-rio, passando pelo centro e atingindo os bairros, além das respectivas travessais, cujas obras de abertura dos esgotos sanitários agravaram a situação, o que já perdura há meses.
2 - Caberia à Prefeitura tomar medidas com relação à empresa construtora dos esgotos, pois a nossa relação – do povo – com o ente municipal se dá por via dos administrações do município.
3 - As pessoas, especialmente idosos e crianças, correm diariamente riscos de acidentes ao utilizar obrigatoriamente essas artérias públicas para o exercício cotidiano da vida, já que os passeios também se encontram, em sua maioria, interditados, não acabados, tomados por mato e lixo, ou simplesmente inexistem.
4 - A recuperação do asfalto na avenida Goiás, no bairro Santo Antônio, em nada resolverá o problema, pois asfalto, qualquer leigo tem esse conhecimento, não se emenda e não existe arremedo.
5 - Não é necessário alongar, apenas que haja por parte de vosso governo o anúncio e início de um plano emergencial de recuperação das ruas, avenidas e praças da cidade, implantando o asfalto onde se encontra danificado, igualmente o calçamento de bloquetes e pedras paralelepípedos, antes que o inverno se acentue e os prejuízos se agravem.
6 - No mesmo plano, urge a retirada das águas – com a limpeza e expansão das galerias e boeiros -, que invadem constantemente a cidade, causando danos imensuráveis no Santa Cruz, Santo Antônio e centro da cidade.
Informamos a Vossa Excelência que cópia dessa carta está sendo enviada à Câmara de Vereadores, além de sua divulgação pública.
O PDT tão-somente cumpre com seu papel constitucional e de defesa dos interesses mais legítimos da população.
Sem nada mais para o momento apresentamos, na oportunidade, protestos de consideração e respeito, e subscrevemo-nos,
Cordialmente,
WLADIMIR BRITO ROCHA
Presidente da Comissão Executiva Municipal do PDT"
segunda-feira, 29 de março de 2010
O (DES)PRESTÍGIO DO ELEITOR
Lulu já morreu, deixando mais triste nossa cidade. Era esperto nas respostas, gostava de posar de rico e valente, dava uns tombos de poucos trocados nos mais incautos e detinha uma rara inteligência em um físico deficiente de nascença. Nascido e criado nas margens do rio Parnaíba, onde a futura cidade de Alto Parnaíba teve sua primeira povoação, Luluzinho teve terras e perdeu tudo na ingenuidade do sertanejo que, quando metido a sabido, infelizmente perde o pouco que possui para os verdadeiramente espertos - os de paletó e gravata.
Mas, vamos voltar ao Lulu que mais interessa, de jeito traquino e lábia prodigiosa, daí o apelido de Lulu Saliva, bem posto por meus conterrâneos.
Lulu sabia ler e escrever, alfabetizado (com bela caligrafia) pela antiga e já esquecida (pelos poderes locais) professora municipal Conceição Lopes. Mesmo durante o regime militar, as eleições municipais não foram suspensas, havendo disputas acirradas entre os candidatos do MDB e Arena, os dois únicos partidos existentes e permitidos pela ditadura de 1964. 15 de novembro era o dia da eleição para prefeito e vereador. Corre o ano de 1976. A eleição se aproxima e as famílias tradicionais da política se digladiam; ofensas de lado a lado, dinheirama solta. Desudedith Lopes e Renan Soares disputam o pleito principal. Durante o longo dia da votação, os cabos eleitorais de ambos os candidatos correm atrás dos eleitores. Lulu é o mais arisco e o que mais explora - uma botina; uma muda de roupa (completa); um relógio; dez cruzeiros, enfim, tudo o que é possível e impossível dentro daquela realidade provinciana, Luluzinho pede incansável e sutilmente aos candidatos, já compremetido desde o início da campanha com cada qual, mesmo só possuindo o próprio voto. O horário do encerramento da votação se aproxima e nada de Cícero Pereira dos Santos exercer o direito ao voto. Um cabo eleitoral, já dando sinais de fadiga, cansaço e irritação, encontra Lulu andando ligeiro na praça principal e o segura pelo braço: você agora não me escapa, vamos votar. Sem qualquer inquietação, tranquilo e sereno, pouco se importando se o mundo se acabasse e nem um pouco acreditando em um lugar melhor com o resultado da eleição, Lulu disparou: ainda faltam vinte minutos. Só vou votar no último segundo, ou então perco o prestígio.
Com razão o saudoso Lulu. Terminada a eleição, o eleitor é esquecido, as promessas ficam no vazio, o prestígio desaparece O eleitorado de Alto Parnaíba continua desprestiado como d'antes, me dando uma vontade danada de sequer votar em outubro próximo.
quinta-feira, 25 de março de 2010
CONVENÇÃO DO PDT
Desta feita a convenção para a renovação da direção partidária - diretório, executiva, comissão de ética e disciplina partidária e escolha dos delegados à convenção estadual -, ocorreu ao lado da casa de meus pais, no último domingo, 21 de março, por onde passaram mais de seiscentas pessoas, quando eleito presidente para o biênio que se findará em março de 2012 o professor Wladimir Brito Rocha, um dos fundadores da agremiação em nosso município.
Os presidentes do PT, professor Raimundo Nonato de França Oliveira, do PR, ex-prefeito Adalto Gomes, e do PSB, ex-vice-prefeito Itamar Vieira, prestiagaram o evento, ao lado de pessoas de todas as classes sociais, onde problemas atuais do município foram discutidos, bem como, a possibilidade de união da maioria das lideranças em torno de candidatos únicos à Câmara dos Deputados e à Assembleia Legislativa, independente de partido, em outubro próximo, objetivando adquirir uma representação verdadeira e atuante em prol de Alto Parnaíba.
quinta-feira, 11 de março de 2010
A REGIÃO SEM DEPUTADO
Não conseguimos mais eleger um único deputado estadual com raízes em Alto Parnaíba, mesmo com a tentativa de meu pai, Antonio Rocha Filho, de Zoroastro Soares, de José Maria Carvalho (na ocasião, Promotor de Justiça em nossa comarca) e mais recentemente, de Ranieri Avelino Soares. O eleitorado é pequeno e falta união. A ausência de um representante na Assembleia Legislativa comprometido pessoalmente com as causas de nossa terra, é um empecilho maior ao desenvolvimento do que a distância geográfica com relação à capital.
Como estamos em ano eleitoral e levando em conta que a situação parece perpétua, faço questão de publicar mensagem em que meu falecido pai se dirigiu ao povo de Alto Parnaíba e de Tasso Fragoso, quando candidato a deputado estadual em 1958, cujo texto mostra a mesma realidade atual - a política ou a antipolítica entravava o nosso crescimento. Antonio Rocha Filho (Rochinha) não foi eleito, entretanto alcançou a segunda suplência pelo PSD, o maior partido do Brasil à época.
Como é impossível publicar de forma legível o texto original, eis a carta:
"MEUS CONTERRÂNEOS:
Atendendo ao imperativo da vontade dos meus amigos dos municípios de Alto Parnaíba e Tasso Fragoso, concorrerei a 7 de outubro próximo a uma cadeira de deputado na Assembléia Legislativa do nosso Estado, sob a legenda do Partido Social Democrático e com o apoio unânime da União Democrática Nacional e Partido Trabalhista Brasileiro.
Como é sabido, há muitos anos vem sendo a nossa região relegada a um abandono injustificável com um grande acervo de necessidades sem que os poderes competentes tenham procurado equacionar. Talvez mesmo nenhum outro município do Maranhão se ressinta de assistência mais do que o nosso, seja pelo descaso de quem de direito, seja pela sua ingrata posição geográfica.
É necessário, pois, urgente e inadiável que uma voz nossa se faça ouvir perante os altos poderes do Estado para pleitear a melhoria das condições de existência de nossa pobre gente, pacífica e laboriosa, postulante de esperança por dias melhores.
Nascido e criado nesta região, venho sentindo intensamente o seu abandono sem infelizmente poder fazer quase nada pela nossa gente, senão facilitar-se como um modesto notário público tudo que é possível dentro da lei e da legalidade. Se mais não tenho podido fazer, de uma cousa tenho certeza: - não sou um forasteiro e nada sei negar para ninguém. Todos me conhecem sobjamente e poderão atestar que amo a minha terra e quero vêla menos pobre e mais feliz.
Dirigindo-me nesta oportunidade aos meus amigos de Alto Parnaíba e Tasso Fragoso, o faço imbuído dos melhores propósitos, oferecendo-lhes a certeza de que, se eleito, com a ajuda de Deus clamarei com todas as minhas forças pelo progresso de nossa região tão digna de um futuro melhor. Viva Alto Parnaíba! Viva Tasso Fragoso! Antônio Rocha Filho (Rochinha)".
A mensagem (esperança e denúncia) de Antonio Rocha Filho ainda reflete a realidade dos dias atuais.
domingo, 7 de março de 2010
E AS ELEIÇÕES?
Até o momento, permaneço com o pensamento de defender a nulidade do voto do eleitor alto-parnaibano, principalmente para deputado estadual e federal. Se nosso município é o mais distante em relação ao centro de decisões políticas e de poder do estado e se nosso eleitorado é pequeno, como dizem costumeiramente as chamadas lideranças de São Luís, quais as razões de votarmos? Se nada é feito por nossa terra, por que teríamos de votar em alguém para os cargos estaduais e federais? Talvez com a maioria de votos nulos, nossa comuna chamaria a atenção da mídia.
No mais, quando as realidades municipais se refletem nos demandos verificados nas capitais do poder, fico com a já célebre frase do ministro Ayres Britto no julgamento do HC impetrado pela defesa do governador afastado do DF, José Roberto Arruda, negado pelo STF: ALGUÉM PARA CHEGAR NAS MAIORES ALTURAS COMETE AS MAIORES BAIXEZAS. Valeu, juiz.
quinta-feira, 4 de março de 2010
AUSÊNCIA DO ESTADO
"Alto Parnaíba/MA, 04 de março de 2010.
A Sua Excelência o Senhor
Doutor MÁRIO DE ANDRADE MACIEIRA
Digníssimo Presidente da Seção da OAB do Maranhão
Rua Dr. Pedro Emanuel de Oliveira, nº 01, Calhau
São Luís/MA
Senhor Presidente,
No último dia 01 de março, a cidade de Alto Parnaíba, no extremo sul maranhense, a 1.080 km de distância de São Luís, onde exerço, desde 1992, a advocacia, foi literalmente tomada de assalto por mais de uma dezena de bandidos, com o objetivo – concretizado – da prática de roubo contra a única agência bancária aqui existente, do Banco da Amazônia.
Reféns foram feitos e centenas de tiros disparados de vários pontos da cidade, não apenas dentro ou nas imediações da agência bancária assaltada, causando pânico, correria, desmaios, enfim, o medo tomou conta de uma população pacata, não acostumada a esse tipo de violência.
Dirijo-me a essa Ordem, trincheira das garantias constitucionais no Brasil, em razão do clamor público, verificado pela ausência do Estado no dito município sul maranhense.
Alto Parnaíba não possui delegado de polícia trabalhando no lugar, e sequer um policial civil – até mesmo o escrivão é ad-hoc e emprestado pela Prefeitura. No dia do assalto, o contigente policial era de apenas três militares – os sargentos Pedra e Barbosa e o soldado Benedito Almeida -, obrigados a se esconder para não serem mortos pelos bandidos. A única viatura, um jeep toyota velho e sem qualquer acessório policial, foi metralhado, assim como outros veículos particulares e repartições públicas. A cadeia é desumana e a sala da delegacia, emprestada pelo Município, não possui condições de funcionamento adequado.
Da mesma forma, a comarca não possui promotor de Justiça titular. Felizmente, temos um juiz de direito, o Dr. Franklin Brandão Júnior, morando e trabalhando na cidade desde o final do ano passado, tentando despachar um considerável volume de processos acumulado praticamente desde janeiro de 2007.
O bando organizado invadiu a cidade, promoveu a desordem, causou o pânico, humilhou pessoas – principalmente aposentados rurais que se encontravam nas dependências do banco.
Assim como entrou em Alto Parnaíba, que nem o cangaço de mosquetão o fez no passado, o cangaço do AR-15 saiu da cidade tranquilamente e como vitorioso, desafiando o Estado e os homens e mulheres de paz do município maranhense.
Mesmo situado na divisa de três estados – Piauí, Bahia e Tocantins -, além de limites com os municípios maranhenses de Tasso Fragoso e Balsas, de possuir uma dimensão com mais de onze mil quilômetros quadrados e de possuir uma das mais prósperas fronteiras agrícolas do Maranhão e do Brasil, Alto Parnaíba vive essa triste realidade, que perdura há anos. O Estado é ausente, e esta é a verdade.
A sociedade continua com medo e o apelo que faço a Vossa Excelência, também é derivado do clamor popular, que acredita na Ordem dos Advogados do Brasil. A delegacia regional de Balsas, titularizada pelo Dr. Richard Zootis, já estaria tomando providências. Policiais foram deslocados para a cidade após o assalto e teriam ido ao encalço dos bandidos, mas não há notícias, até o momento, da captura de nenhum deles. O receio é de um provável retorno dos criminosos, que demonstraram possuir poder de fogo, conforme noticiou o Jornal Pequeno, nas palavras do próprio delegado regional, no dia seguinte ao lamentável acontecimento, cresce a cada momento.
Considerando esses fatos, e na qualidade de membro dessa Ordem, rogo a Vossa Excelência para que promova junto ao Governo do Estado do Maranhão e à Polícia Federal, esforços no sentido de que providências imediatas e energéticas sejam tomadas em defesa da comunidade de Alto Parnaíba, inclusive quanto ao aumento do contigente policial, nomeação de um delegado de polícia que venha a morar na cidade, remessa de uma viatura traçada, com comunicação e demais equipamentos, além de armamentos e apoio logístico.
O tempo urge.
Sem nada mais para o momento e apresentando, na oportunidade, votos de consideração e respeito, subscrevo-me,
Cordialmente,
DÉCIO HELDER DO AMARAL ROCHA -Advogado – OAB/MA 3.937"
terça-feira, 2 de março de 2010
VIOLÊNCIA E PÂNICO
Alto Parnaíba, no extremo sul maranhense, é um município pacato e mesmo situado na divisa de quatro estados, não havia vivenciado a violência de ontem pela manhã, quando aproximadamente 20 homens, fortemente armados, inclusive com fuzis e metralhadoras, assaltaram a agência do Banco da Amazônia, a única existente na cidade, fizeram quatro funcionários e mais três cidadãos do povo, reféns, e com muito dinheiro (pelo que consta), saíram como entraram - tranquilos e vitoriosos em seu intento criminoso.
Minutos de terror. Os bandidos praticamente tomaram a cidade de assalto, assim como nos idos do cangaço. Tiros ameçadores foram disparados praticamente em toda a cidade, desde a beira do rio Parnaíba, onde Alto Parnaíba nasceu, até as duas entradas da sede do município mais meridional do Maranhão - a MA-006 que dá acesso a Tasso Fragoso e a Balsas e a BR-235, para o Tocantins -, metralharam o único carro da polícia maranhense, colocando os dois policiais de plantão literalmente para correr - e correram com razão, pois primeiro a vida.
Há muito tempo reclamo aqui da ausência do Estado em minha terra natal. Em Alto Parnaíba, não existe delegado de polícia e sequer um policial civil; são apenas quatro policiais militares, praticamente desarmados (os revólveres dos policiais com munição insignificante), sem viatura no mínimo decente, sem sistema de comunicações, sem apoio logístico de qualquer natureza, mesmo tratando-se de um município com mais de onze mil quilômetros quadrados, em divisas com o Piauí, Bahia e Tocantins, além dos municípios de Tasso Fragoso e Balsas, no mesmo Maranhão.
Felizmente, ninguém ficou ferido. A agência do BASA estava cheia; era dia de pagamento dos aposentados rurais. Os bandidos, que teriam chegado à cidade em um automóvel Astra e na fuga, colocado fogo no carro no meio da ponte sobre o rio Medonho (a 14 km da cidade), demonstraram frieza em uma ação calculada e típica do crime organizado. Aliás, os bandidos chegaram a fazer política social ao devolverem o dinheiro da aposentadoria de uma velhinha que já havia sacado e o salário mínimo se encontrava no balcão, em um discurso para dezenas de pessoas ali deitadas sob a mira de armas de grosso calibre - queremos o dinheiro do governo e não a grana dos aposentados.
Todos nós ficamos sem reação. Como reagir a tamanha violência, quando não acostumados e quando ausente o Estado? Bala para todo lado. Carros e bombas de combustíveis metralhados, assim como repartições públicas. Pessoas correndo e se escondendo onde fosse possível. Era o poder do crime sobrepondo-se à autoridade do Estado, aqui inexistente. Autoridades locais e com atribuições em nosso município, remeteram uma carta-denúncia sobre a ausência de segurança pública ao governo do Maranhão, sem resposta. Policiais de Balsas e reforços de Lizarda e de Santa Filomena, chegaram depois. O crime anunciado estava consumado. Essa violência conhecíamos apenas pela televisão. Pessoas chorando e em estado de pânico. Talvez, diriam os irônicos, que até que enfim algo da civilização chegou até essa pequena cidade do interior nordestino.
Infelizmente, a violência das grandes cidades conseguiu chegar primeiro à minha cidade do que o Estado brasileiro.