Quando morávamos em São Luís, diriamente meu pai adquiria os principais jornais do país, mais precisamente o Jornal do Brasil, para ele o melhor jornal brasileiro, tendo em vista a independência demonstrada naqueles anos de regime de exceção institucional e política.
Desde criança e por incentivo paterno, passei a disputar com meus irmãos a prelazia de ler em segundo lugar as notícias trazidas pela melhor imprensa escrita do nosso país, cujos jornais chegavam na velha capital maranhense nos finais da tarde e íamos, quase em procissão familiar, comprá-los na Praça João Lisboa, quase sempre na banca de seu João, um velhinho simpático e conhecido antigo de meu genitor. Assim como os diários, as revistas semanais - Manchete, Veja, Istoé.
Meu pai era um apaixonado pela leitura e mesmo não entendendo de futebol, lia Armando Nogueira, a quem aprendi a ler e a admirar na distância que deve manter o leitor de seu autor. A coluna "Na Grande Área" era uma delícia, juntando a isso o gosto que tenho pelo futebol e pelos esportes de um modo geral. Armando Nogueira, que morreu ontem, não era apenas o comentarista de futebol, o amante dos esportes, mas o jornalista-crônista, ameno sem polêmicas, porém firme em suas convicções e maestro no uso primoroso das palavras, encaixando-as em frases sobre os quais o delite de ler ou ouvir não permitiam uma análise acadêmica nem dos mais mais chatos intelectualizados.
Mesmo distante e sem ter conhecido pessoalmente Armando Nogueira, senti a sua morte, que também é o passamento daquilo de melhor que este país produziu. Armando Nogueira foi sem dúvida alguma útil ao Brasil, mesmo com todas as restrições que minha mocidade me permitiu que fizesse contra a parcialidade e a omissão do Jornal Nacional em todos os governos, quando acreditava, com os demais companheiros estudantes, que se Cid Moreira decidisse, ao vivo para milhões de brasileiros, ao invés de ler as notícias rotineiras e de interesses do presidente de plantão, denunciar as torturas, a corrupção, o êngodo, o atraso econômico e social, a miséria e a fome, o Brasil teria alguns segundos ou pouco minutos de glória verdadeiramente revolucionaria. Entretanto, só valeria se o texto fosse do Armando Nogueira, no mesmo canto dos dribles de Garrincha e da arte singular de Pelé.
terça-feira, 30 de março de 2010
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