terça-feira, 2 de março de 2010

VIOLÊNCIA E PÂNICO

A minha cidade viveu ontem um dia nunca d'antes presenciado em quase 144 anos desde a sua fundação.

Alto Parnaíba, no extremo sul maranhense, é um município pacato e mesmo situado na divisa de quatro estados, não havia vivenciado a violência de ontem pela manhã, quando aproximadamente 20 homens, fortemente armados, inclusive com fuzis e metralhadoras, assaltaram a agência do Banco da Amazônia, a única existente na cidade, fizeram quatro funcionários e mais três cidadãos do povo, reféns, e com muito dinheiro (pelo que consta), saíram como entraram - tranquilos e vitoriosos em seu intento criminoso.

Minutos de terror. Os bandidos praticamente tomaram a cidade de assalto, assim como nos idos do cangaço. Tiros ameçadores foram disparados praticamente em toda a cidade, desde a beira do rio Parnaíba, onde Alto Parnaíba nasceu, até as duas entradas da sede do município mais meridional do Maranhão - a MA-006 que dá acesso a Tasso Fragoso e a Balsas e a BR-235, para o Tocantins -, metralharam o único carro da polícia maranhense, colocando os dois policiais de plantão literalmente para correr - e correram com razão, pois primeiro a vida.

Há muito tempo reclamo aqui da ausência do Estado em minha terra natal. Em Alto Parnaíba, não existe delegado de polícia e sequer um policial civil; são apenas quatro policiais militares, praticamente desarmados (os revólveres dos policiais com munição insignificante), sem viatura no mínimo decente, sem sistema de comunicações, sem apoio logístico de qualquer natureza, mesmo tratando-se de um município com mais de onze mil quilômetros quadrados, em divisas com o Piauí, Bahia e Tocantins, além dos municípios de Tasso Fragoso e Balsas, no mesmo Maranhão.

Felizmente, ninguém ficou ferido. A agência do BASA estava cheia; era dia de pagamento dos aposentados rurais. Os bandidos, que teriam chegado à cidade em um automóvel Astra e na fuga, colocado fogo no carro no meio da ponte sobre o rio Medonho (a 14 km da cidade), demonstraram frieza em uma ação calculada e típica do crime organizado. Aliás, os bandidos chegaram a fazer política social ao devolverem o dinheiro da aposentadoria de uma velhinha que já havia sacado e o salário mínimo se encontrava no balcão, em um discurso para dezenas de pessoas ali deitadas sob a mira de armas de grosso calibre - queremos o dinheiro do governo e não a grana dos aposentados.

Todos nós ficamos sem reação. Como reagir a tamanha violência, quando não acostumados e quando ausente o Estado? Bala para todo lado. Carros e bombas de combustíveis metralhados, assim como repartições públicas. Pessoas correndo e se escondendo onde fosse possível. Era o poder do crime sobrepondo-se à autoridade do Estado, aqui inexistente. Autoridades locais e com atribuições em nosso município, remeteram uma carta-denúncia sobre a ausência de segurança pública ao governo do Maranhão, sem resposta. Policiais de Balsas e reforços de Lizarda e de Santa Filomena, chegaram depois. O crime anunciado estava consumado. Essa violência conhecíamos apenas pela televisão. Pessoas chorando e em estado de pânico. Talvez, diriam os irônicos, que até que enfim algo da civilização chegou até essa pequena cidade do interior nordestino.

Infelizmente, a violência das grandes cidades conseguiu chegar primeiro à minha cidade do que o Estado brasileiro.

2 comentários:

  1. Hoje os assaltos a bancos é algo que ocorre em qualquer lugar do Brasil, mas a fragilidade da polícia de Alto Parnaíba mostra que qualquer pessoa muito bem armada consegue fazer o que quiser em nosso município.

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  2. Caro primo,
    É deveras de entristecer, a situação por que passamos na manhã do dia 1º de março. Uma pacata e hospitaleira cidade transformou-se num caótico cenário, dígno do mais fictício filme americano sobre violência urbana (Guardadas as proporções). Quero saber até quando vai deixar de existir uma política pública de segurança eficiente.Uma cidade 110 km longe da capital, extrema com dois (praticamente três)Estados, com um efetivo de três policiais, sem nenhuma condição de reação para a segurança da comunidade. É "BRINCADEIRA".
    Abraço cordial.

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