Morreu na madrugada de hoje, 30 de julho, no hospital São Geraldo, em Alto Parnaíba, um dos últimos personagens folclóricos de minha terra, o filomenense Antonio Dozio Ascenso dos Reis, o popular Ribeiro, aos 62 anos de idade.
Ribeiro ou capitão Ribeiro, como era carinhosamente tratado por todos em nossa comunidade, nasceu do lado piauiense do rio Parnaíba, à margem deste na Fazenda Riacho da Areia, em frente à fazenda Lajeado, então pertencente a Otacílio Lustosa Mascarenhas, onde seus pais, Maria José e José Ascenso, antes do casamento arrumado pelos bondosos patrões, viviam.
Nos anos 1960, os pais de Ribeiro trouxeram a prole para Alto Parnaíba e meu pai, Antonio Rocha Filho, ajudou-lhes a adquirir um terreno no hoje bairro São José, onde ergueram uma casinha, melhorada no decorrer dos anos. Além de Ribeiro, apenas Pedro Margarido e João da Paz, sobreviveram à mortalidade infantil que dizimou outros sete ou oito irmãos.
O Criador privou o nosso capitão sem patente de qualquer beleza física, incluise dotando-lhe de deficiência nas pernas, mas, como justo e soberano, deu-lhe o dom natural de responder a todos com improvisos interioranos cheios de graça e às vezes, de rima. Gostava de uma cachaça, que talvez, sem qualquer apologia, aliviava a falta de atrativos externos. Amava as belas mulheres e mesmo não as tendo, tinha-as como suas, entretanto, não ultrapassava os limites da decência e do respeito.
Anjo em um corpo que fazia lembrar o lendário de Notre Dame, Ribeiro conviveu, quando mais jovem, em nossa casa, presença ali constante e me faz recordar o seu sorriso (gaitada) alta, a sua veia de autoridade que parece ter trazido de outras vidas, o medo que impunha às crianças (não por ser violento, mas pela razão física), o seu gosto por espelhos, onde se mostrava a si próprio e se achava, com certeza, o mais belo dos homens.
Quando padecem os Ribeiros, a humanidade fica mais pobre e Deus, por sua vez, feliz em receber de volta quem cumpriu fiel e resignadamente os seus desígnios. Adeus, capitão.
sexta-feira, 30 de julho de 2010
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Fiquei bastante consternado com a notícia do falecimento de nosso amigo Ribeiro. Ele fora o grande personagem da infância de meus contemporâneos, uma vez que simbolizava tanto o escárnio quanto o medo. Ribeiro era engraçado, simpático, um tanto educado para sua falta de instrução. Era uma mistura de Corcunda de notre Dame e Ronald Golias, pois sua aparência, sem outro artifício, era responsável por sorrisos instantâneos. Impossível lembrar da pracinha, do mercado, da rua do Banco sem imaginar a figura folclórica de Ribeiro com seu velho carrinho de mão. Tantos já se foram, uns de forma mais natural, enfermados por vícios comuns a esses personagens, outros tragicamente pelas mãos de facínoras, mas nenhum fará tanta falta como Ribeiro, o mais nobre e menos agressivos deles. O céu está mais alegre, os anjos devem gargalharem, pois onde há Luluzinho, Quincas, Ribeiro, dentre outros, não há como o riso ficar inerte. Parabéns pelo texto, Dr. Décio.
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