domingo, 9 de janeiro de 2011

AS VELHAS FAZENDAS DE VICTÓRIA

Com apenas 16 anos de idade, o futuro coronel da Guarda Nacional e vice-governador do Maranhão, Antonio Luiz do Amaral Britto, foi o principal auxiliar do tio Cândido Lustosa de Britto, seu sogro duas vezes, na fundação do hoje município de Alto Parnaíba, no extremo sul maranhense, cuja data oficial é 19 de maio de 1866, quando o fazendeiro Francisco Luiz de Freitas e sua esposa Micaela de Abreu Freitas, sob a liderança de Cândido, fizeram a doação da fazenda Barcelona, onde hoje é a cidade, à Igreja Católica.

Diziam os mais antigos que Antonio Luiz detinha rara inteligência, unindo esta à experiência e à sagacidade de Cândido Lustosa de Britto, os dois principais fundadores e líderes de nosso município desde a sua fundação até as décadas de 1910 e 1920. Com um território imenso, que ia das nascentes do Parnaíba à foz do Balsas com o grande rio, passando pelo norte de Goiás, Victória do Alto Parnaíba, o segundo nome dado a Alto Parnaíba, naturalmente abrangia terras excelentes para plantações e criações.

Com essa visão, os dois fundadores desbravaram o território e fixaram as propriedades, que até hoje, na sua totalidade, com exceção da fazenda Barcelona por razões óbvias, possuem as mesmas denominações dadas pelos dois descendentes da família Britto da região de Arcoverde, em Pernambuco.

Cândido situou as fazendas São Paulo, Morros, Boa Vista, Água Branca (com Alexandre Maurício de Britto), Boa Fé, Nazaré. Antonio Luiz delimitou as fazendas Criméia, Tranqueira, São Pedro, Salina, Genipapo, Campo Grande, Figuras, dentre outras. O vizinho Barão de Santa Filomena, que não perdeu de todo o poder dominial, manteve as fazendas Sucupira, Volta da Serra, Promissão.

Os nomes dizem da crença, da admiração, da religiosidade católica, da cultura e das riquezas do lugar. O poeta Luiz Amaral em uma de suas dezenas de cartas deliciosas, esta escrita ao meu pai, Antonio Rocha Filho, em 28 de novembro de 1968 e publicada em Meu Livro (páginas 187/193), institulada "Um SOS vexado de um cristão apavorado", relembra de algumas dessas pioneiras propriedades rurais, típicas de nossa origem, com nomes não menos peculiares, n'uma saudade imensa de quem queria ser, ele próprio, confinado em seu mundo chamado Vitória, canta e exalta as fazendas Boca, de Mundico Almeida, Sumidô, de Clóvis Vargas, Badejo, de Otacílio Mascarenhas, Escondido, de Eurípedes Coelho, Escuro, de José Honório (o único ainda entre nós ao lado de Mundico Almeida), Caracol, de Izidoro Rolim, Sossego, de Hamilton Brito, o Mitim (nome mais do que apropriado em razão do saudoso dono), finalizando o poeta com o Orobó, que foi dele mesmo e na época, pertencia a Homerino Segadilha.

Já estive praticamente em todas essas antigas fazendas, retrato da vida dos alto-parnaibanos e vitorienses de todas as gerações, descendentes ou não dos fundadores e de seus proprietários. Elas resistem, inclusive às máquinas e à soja. Muitas permanecem com seus antigos donos, como a Boca, de Raimundo Alves de Almeida (Mundico), e outras com seus descendentes, como o Badejo, da família Mascarenhas, parte do Caracol, de herdeiros de Izidoro Rolim, e da Água Branca, no que coube a alguns herdeiros de meu avô paterno, Antonio de Araújo Rocha. Na maioria, a criação de gado ainda é extensiva, ou seja, nos chamados referigérios. A curraleira ainda é encontrava, especialmente na região do distrito de Curupá e da fazenda Morrinhos, um lugar onde não existe morros. Enfim, ainda é possível rever e viver esse passado secular.

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