Confesso que a simples ideia da construção de barragens ao longo do rio Parnaíba e afluentes na região do Alto Parnaíba me deixam apreensivo, quer pelo aspecto sócio, cultural, ecônomico e ambiental, quer pela não concepção de ver parte das terras de Alto Parnaíba e Santa Filomena tomadas pelas águas das represas.
Não me considero nenhum retrógado; tenho pavor de algumas grandes (megalomaníacas) obras ou pequenas obras multiplicadas que se tornarão grandes, assim como o PT tinha a mesma posição quando oposição. No caso concreto de minha região, onde nasci, vivo, trabalho e quero ser enterrado, não vislumbro a necessidade de construirem barragens, inclusive pela criação do Parque Nacional das Nascentes do Rio Parnaíba, decretada pelo presidente da República, que abrange mais de 300 mil hectares de terras somente no município de Alto Parnaíba, visando proteger o grande rio e seus afluentes; por sermos abastecidos, com perscalços, confesso, pela energia da hidrelétrica de Boa Esperança, erguida pelos militares no mesmo Parnaíba, e pela violência que representará contra uma população antiga, pacata, com raízes no lugar, com suas vidas simples porém felizes, onde seus mortos estão sepultados, ao se depararem com suas terras, suas casas, a sua comuna destruídos por um capricho imposto de cima para baixo pela metrópole central e por um presidente mais do que suíno.
O mais grave: parece-me que a energia que seria produzida em tais hidrelétricas serviriam para abastecer outras cidades e estados do país, o que representaria um absurdo ainda maior. Se a região de Barreiras, no oeste da Bahia, precisa de mais energia, por que então não abrir essas barragens nos rios dali, como o São Francisco e o Preto?
As informações que eu tenho, e com certeza a nossa comunidade, são mínimas. Órgãos representativos de defesa do meio ambiente se reuniram com a sociedade em Alto Parnaíba, na quinta ou sexta-feira da semana passada, onde não foi possível estar presente, entretanto, deixaram alertas ao nosso povo e às nossas autoridades, muito bem traduzidas pelo radialista José Bonifácio Bezerra no seu programa de ontem, na Rádio Comunitária Rio Taquara FM, de Santa Filomena, que ouvi e deixou-me receoso, principalmente com a notícia que uma das hidrelétricas será na foz no rio Taquara com o Parnaíba, próximo às cidades de Santa Filomena e Alto Parnaíba, e que tomará uma extensão de terras com mais de 150 km, o que representaria o fim do parque criado pelo mesmo governo federal, e expulsaria da terra ribeirinhos e não ribeirinhos, geraria a desintegração social, cultural e familiar, faria muita gente padecer de tristeza.
Vou me inteirar mais, mas desde já deixo claro: SOU CONTRA BARRAGENS AQUI EM NOSSO ALTO PARNAÍBA, que precisa de integração, de desenvolvimento sustentável, da presença construtiva do Brasil e não que venha aproveitar nossas riquezas hidricas e transformá-las em fonte de energia para grandes centros urbanos (principalmente para os ricos), que nem nos conhecem e que nada fizeram por esse sertão tão ultrajado pelo Estado.
Quero continuar vivendo na mesma casa onde nasci; não quero ser expulso de minha cidade e nem permitir que meus conterrâneos o sejam, e não venham com essa estória de empregos e desapropriações - ninguém recebeu dinheiro do governo por tomar as suas terras para barragens desde a primeira construída no país e o emprego para a gente local é de natureza nitidamente escravo. O desenvolvimento às custas da desintegração social, do crime contra a natureza, do desrespeito para com as famílias do lugar, eu não quero e nem desejo.
P.S. Alto Parnaíba hoje está de luto com a morte do ex-vereador José Martins dos Santos, o seu Zequinha, um matogrossense que veio para nosso município ainda no início da década de 1970, e aqui consolidou a família, ajudando a construir de verdade o progresso local. Homem cordial, simpático, pacato e correto em seus negócios, seu Zequinha deixará saudade. À família - dona Elza (esposa), Célio e Vilsinho (filhos), Rosanea e Alice (noras) e netos, o nosso abraço sincerto e fraterno.
P.S2. Também a família de minha mãe está triste no dia de hoje, com a morte de madrugada, em Teresina, do meu tio Benedito de Carvalho Nunes (Bena), casado com minha tia Ana Alaíde Amaral de Carvalho Nunes (Alaidinha). O casal não teve filhos. Bena era um consagrado cardiologista, professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Piauí, foi diretor-geral do maior hospital público da capital piauiense, o Getúlio Vargas, era natural de Oeiras e ainda relativamente jovem, deixará uma lembrança gratificante para todos que com ele conviveram e o admiravam. No ano passado esteve em Alto Parnaíba conosco. Gostava da vida, alegre, meio boêmio, enfim, um bom homem e um grande médico, professor de várias gerações de profissionais do Piauí, deixando um legado profícuo à humanidade.
segunda-feira, 27 de julho de 2009
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Meu primo,
ResponderExcluirParabéns, mais uma vez pelos artigos.
Estou aqui, em Goiania, mas sempre atento.
P.S.: transmita meu sentimento de pesar a sua tia e aos demais.