terça-feira, 6 de novembro de 2012

CONGRESSO HOMENAGEIA O MARQUÊS DE PARANAGUÁ

Em sessão solene conjunta realizada ontem, 05 de novembro, no plenário do Senado Federal, o Congresso Nacional, a requerimento do deputado federal Paes Landim (PTB-PI) e do senador Wellintgon Dias (PT-PI), prestou justa e merecida homenagem à memória do magistrado e político João Lustosa da Cunha Paranguá, o Marquês de Paranaguá, em ato presidido pelo senador paulista Eduardo Suplicy (PT).

Piauiense da então frequesia de Nossa Senhora do Livramento de Parnaguá, hoje apenas o município de Parnaguá, povoação pioneira do sul do estado, João Lustosa da Cunha Paranaguá nasceu em 1821 e faleceu no Rio de Janeiro em 1912. Ainda criança, passou a morar e estudar em Olinda onde se bacharelou em direito, seguindo para Salvador, onde iniciou a militância política, antes exercendo a magistratura até atingir o cargo de desembargador. Foi deputado federal (geral), senador do Império, governador das Províncias do Piauí, Pernambuco e Bahia, ministro de Estado da Justiça, da Guerra, da Fazenda e dos Negócios Estrangeiros (Relações Exteriores), além de presidente do Conselho de Ministros ou Primeiro Ministro do Brasil no segundo reinado. Conforme o seu sobrinho trineto, diplomata Marcos Henrique Paranaguá, que representou a família na solenidade, com certeza Paranaguá possui a mais completa biografia de um político do Piauí em todos os tempos.

Irmão de José Lustosa da Cunha, o Barão de Santa Filomena, e José da Cunha Lustosa, o Barão de Paraim, Paranaguá foi o responsável pela implantação e posterior expansão da navegação pelo rio Parnaíba, tirando o interior piauiense e consequentemente maranhense do isolamento completo em que estavam mergulhados, bem como pela veemência em que denunciava na tribuna da Câmara ou do Senado e agia como integrante do governo de seu grande amigo, o imperador Pedro II, no combate à seca que já maltratava o nordeste brasileiro, incluindo o seu querido Piauí, razão maior de sua atuação política marcante e pragmática em quarenta anos da história do Brasil imperial no segundo reinado.

Todos os oradores que se revezaram na tribuna do Senado ontem, como o ex-governador, deputado Hugo Napoleão (PSD-PI), o senador Wellington Dias, o deputado Paes Landim, o diplomata Marcos Henrique Paranaguá e o escritor piauiense Chico Castro, lembraram a trajetória desse estadista do impérío, que saíu, órfão de pai aos seis anos de idade, do longínquo interior sertanejo do Piauí para tornar-se chefe do governo brasileiro e um dos mais importantes homens públicos em momento decisivo da história do país, que antecedeu a proclamação da República e a queda do imperador Pedro II, quando o mesmo Paranaguá abandonou a política, mantendo-se leal ao antigo monarca, a quem não abandonou em momento algum. Também prestigiou a cerimônia o prefeito eleito de Corrente, no sul do Piauí, escritor e ex-deputado estadual e ex-conselheiro do Tribunal de Contas piauiense, Jesualdo Cavalcanti Barros.

O sobrinho trineto de Paranaguá fez questão de relembrar como as relações entre a família do futuro marquês e do imperador tornaram-se íntimas. Ainda crianças, a princesa Isabel, filha de Pedro II e a regente que sancionou posteriormente a lei que libertou os escravos e pôs fim à escravidão no Brasil, e Amanda Paranaguá, filha do político piauiense, então deputado geral, estavam bricando nos jardins do palácio imperial quando, por descuido, a princesa atingiu Amanda com uma machadinha em dos olhos, perfurando-o. A amizade das duas foi mantida até no exílio. Nem por isso, Paranaguá se aproveitou para tirar provetos pessoais, tanto é verdade que somente conseguiu o título de marquês um ano antes da queda da monarquia.

Após deixar a política, já na República, Paranaguá tornou-se membro do Instituto Histórico e Geográfico do Brasil e seu presidente. Segundo o historiador Chico Castro, autor de um livro recentemente publicado pelo Senado Federal sobre o estadista piauiense, vasta correspondência trocada entre o ex-Primeiro Ministro e o imperador e entre aquele e o então ministro da Guerra, o Duque de Caxias, foram encontradas no museu imperial e necessitam ser digitalizadas e preservadas. São documentos imprescindíveis a uma compreensão mais coesa sobre a guerra do Paraguai, quando Caxias era comandante das tropas brasileiras em conflito e Paranaguá o seu chefe como ministro da Guerra.

A família Lustosa da Cunha, com origem em Santos, no litoral de São Paulo, e que se instalou e fundou Parnaguá, no sul do Piauí, possui vasta descendência no sul piauiense, no extremo sul do Maranhão e no Tocantins. Muitos com sobrenomes diferentes, porém das mesmas raízes. Minha avó paterna, Ifigênia do Nazareth Rocha, por exemplo, era neta do Barão de Santa Filomena, filha do coronel Leopoldo Lustosa da Cunha, e daí por diante. É história que precisa ser contada a estas e a futuras gerações.

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