Aliados e líderes das oposições coligadas que derrubaram do comando da política maranhense o então poderoso Senador Vitorino Freire, depois ferrenhos adversários políticos após a adesão do então Governador José Sarney à ditadura militar de 1964, na última quarta-feira o ex-deputado federal Neiva Moreira, que está internado em estado grave na unidade de terapia intensiva do hospital UDI em São Luís, recebeu a visita do ex-Presidente da República e atual Presidente do Senado, José Sarney.
Prova de civilidade e do respeito que José Guimarães Neiva Moreira, 94 anos de idade, ribeirinho do Parnaíba maranhense da velha Nova Iorque - antes da inundação provocada pela barragem de Boa Esperança -, recebe de seu maior adversário. Respeito recíproco, que posso testemunhar nas várias conversas que tive com Neiva Moreira, esse mestre da decência, da honestidade, da dignidade na vida pública, uma das maiores inteligências do Brasil.
Em momento difícil de minha vida pessoal e profissional, tive em Neiva Moreira o apoio incondicional. Na sessão solene da OAB do Maranhão de 09 de julho de 2004 em desagravo público a mim, na sede da entidade na capital maranhense, lá estava Neiva sentado ao lado de outro líder inconteste da resistência democrática brasileira e maranhense e mestre da coerência e da probidade com a coisa pública, o saudoso Governador Jackson Lago.
Neiva Moreira chegou a ser um dos homens mais importantes da República, principalmente nos governos dos ex-Presidentes Juscelino Kubitschek e João Goulart. Por JK, com status de ministro de Estado, foi encarregado da transferência estrutural da capital federal do Rio de Janeiro para Brasília. Com Jango, foi um de seus líderes no Congresso Nacional, caindo junto com o presidente e sendo um dos primeiros presos políticos e exilados pela ditadura que se instalou no Brasil em 31 de março de 1964. Ficou longe de sua terra por longos 15 anos.
Jornalista combativo, liderou a revolta de 1952 em São Luís, quando o povo, indignado, impossibilitou a posse de Eugênio de Barros, o candidato derrotado ao governo do estado, por longos dois anos de combate até sangrento e protestos que levaram à intervenção federal (extra-oficial) do governo federal no Maranhão. Na época, o candidato das oposições coligadas, Saturnino Belo, apoiado pelo jovem Neiva Moreira, orador incendiário que mobilizou milhares de maranhenses nas ruas da velha capital dos azulejos em programa de rádio e nas páginas de jornais de oposição, além de comícios relâmpagos, foi eleito e morreu antes da posse, levando o todo poderoso Vitorino Freire, condestável da República, a substituir o vitorioso morto não pelo vice ou através de nossas eleições, mas pelo derrotado. O TSE, o mesmo do caso Jackson, diplomou o perdedor Eugênio Barros, que somente conseguiu que a decisão fosse cumprida após a metade do mandato de governador.
No final dos anos 1940, Neiva Moreira conseguiu que uma linha comercial de aviação semanalmente passasse pelo aeroporto de Alto Parnaíba. Era a nossa primeira ligação aérea regular com o restante do Brasil. Logo depois, melhorou o sistema de telégrafo. Em 2002, juntamente com companheiros do PDT votamos em Neiva para deputado federal.
Essa visita de Sarney retrata o momento de civilidade democrática que o Brasil começa a viver. Rompendo o isolamento provocado pela ciumeira entre Lula e FHC, Dilma se aproximou do ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso, da oposição, e tornaram-se confidentes. Tudo para o bem do país. Mesmo em estado grave e com certeza não tendo condições de falar com o ex-Presidente Sarney, o velho líder Neiva Moreira está feliz. O Maranhão precisa de paz construtiva para sair do subdesenvolvimento, já que essa briga sem fim em nada contribuiu para diminuir a miséria e as mazelas de nosso estado.
Fonte: Jornal Pequeno (on line), de São Luís, edição de hoje, 05/04/2012.
quinta-feira, 5 de abril de 2012
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