Não sei quem deu o nome, mas o certo é que os antigos, pelo dom natural do conhecimento, eram mestres em fazer as denominações daquilo que iam desbravando pelo interior e sertões brasileiros. No caso específico, trata-se de um pequeníssimo córregedo e a respectiva ladeira, situados logo após o brejo do Chapada, aproximadamente 1,5 km da cidade de Alto Parnaíba na estrada municipal que vai até o distrito de Curupá.
Esse apertado da hora é mestre em apertar os outros. Quando criança, vivi a angústia de perder alguns dias de férias escolares nas fazendas Escondido, União e Barra do Rio, de propriedade de meus pais, face ao rompimento da estrada exatamente no dito cujo, obrigando meu pai, Antonio Rocha Filho (Rochinha), que não era de esperar por ações dos governos, a construir, por conta e expensas próprias, uma outra estrada, cara e mais distante, para desviar daquele caminho, cujas chuvas fizeram romper os bueiros e a ladeira, inviabilizando o tráfego.
Ontem, ao deixar o escritório, no centro da cidade, para retornar à minha casa, na chácara Ifigênia Rocha (barra do ribeirão São José com o Parnaíba), enfrentei, desprevenido, a razão de minhas angústias da infância. Chovia e com a chuva, a primeira em muitos dias, o calmo apertado da hora se transformou em um gigante e entre o barro seco que fazia deslizar o carro em zigue-zague, consegui chegar ao final da ladeira e no meu lar.
Entretanto, minha esposa e outros motoristas não conseguiram vencer a ladeira, deixando os carros ali, ameaçados de novo rompimento dos bueiros e consequente aberturas de crateras e desmoronamentos de terra.
Ali inexiste cascalho no leito da estrada vicinal municipal; aos montes, o cascalho é vizinho em toda a extensão da dita estrada. Hoje pela manhã, o tempo ameno e a ladeira seca, recebi a visita do prefeito Ernani do Amaral Soares, lá na minha chácara, e retornei com ele, observando o trecho, inclusive dentro da cidade, no bairro São José, mais precisamente na rua capitão Daniel Brito, na altura da escola municipal São José, onde o asfalto foi destruído não pela força da natureza, mas pela ação da construtora do sistema de esgotos, que além dos dois jovens ali soterrados e mortos, a falta de reposição do asfalto transformou aquela importante via pública em um buraco só. O prefeito prometeu solucionar a questão do apertado da hora, pelo menos paulatinamente, enquanto aguarda um relatório da construtora quanto ao segundo problema.
O apertado da hora, que em proporções bem menores faz lembrar o rio Medonho nas cheias, me remonta a um fato ocorrido com um importante líder católico do passado. Era arcebispo de São Luís, dom Carlos Carmelo Motta, mais tarde cardeal brasileiro e condutor da Igreja Católica nas arquidioceses de São Paulo e Aparecida. Dom Carmelo, hóspede de minha bisavó Joaninha Lopes, ferverosa católica, em Victória do Alto Parnaíba, decidiu visitar a mais distante paróquia maranhense com relação à capital do estado. Isso há mais de meio século. Ainda não havia estrada; o transporte mais fácil era pelo rio Parnaíba, de vapor ou balsas rústicas, ou, quem quizesse aventurar ainda mais, como no caso do futuro cardeal, enfrentar o lombo de burro. E foi assim que Dom Carmelo chegou ou quase não chegou a Alto Parnaíba. Ao atravessar o valente rio Medonho, um dos mais importantes alfuentes do Velho Monge, exatamente no chamado Porto da Cigana (onde uma cigana teria morrido afogada e seu espírito ainda vagando por ali), próximo à ponte atual, o religioso e servo de Deus, desconsiderando o conselho de seus guias humanos, desafiou as águas com corredeiras do belo rio e por minutos foi por elas levado com burro e tudo mais, até ser resgatado ofegante e quase desmaiado, próximo da foz com o Parnaíba. Ao se recuperar um pouco e após ter indagado dos companheiros que nome tinha aquele bravo rio, sentenciou o discípulo de Cristo: "Este rio não é Medonho; ele é terrível!".
Se as providências não forem ultimadas e com o inverno chegando forte, com certeza o apertado serei eu e o terrível, o apertado da hora.
Esse apertado da hora é mestre em apertar os outros. Quando criança, vivi a angústia de perder alguns dias de férias escolares nas fazendas Escondido, União e Barra do Rio, de propriedade de meus pais, face ao rompimento da estrada exatamente no dito cujo, obrigando meu pai, Antonio Rocha Filho (Rochinha), que não era de esperar por ações dos governos, a construir, por conta e expensas próprias, uma outra estrada, cara e mais distante, para desviar daquele caminho, cujas chuvas fizeram romper os bueiros e a ladeira, inviabilizando o tráfego.
Ontem, ao deixar o escritório, no centro da cidade, para retornar à minha casa, na chácara Ifigênia Rocha (barra do ribeirão São José com o Parnaíba), enfrentei, desprevenido, a razão de minhas angústias da infância. Chovia e com a chuva, a primeira em muitos dias, o calmo apertado da hora se transformou em um gigante e entre o barro seco que fazia deslizar o carro em zigue-zague, consegui chegar ao final da ladeira e no meu lar.
Entretanto, minha esposa e outros motoristas não conseguiram vencer a ladeira, deixando os carros ali, ameaçados de novo rompimento dos bueiros e consequente aberturas de crateras e desmoronamentos de terra.
Ali inexiste cascalho no leito da estrada vicinal municipal; aos montes, o cascalho é vizinho em toda a extensão da dita estrada. Hoje pela manhã, o tempo ameno e a ladeira seca, recebi a visita do prefeito Ernani do Amaral Soares, lá na minha chácara, e retornei com ele, observando o trecho, inclusive dentro da cidade, no bairro São José, mais precisamente na rua capitão Daniel Brito, na altura da escola municipal São José, onde o asfalto foi destruído não pela força da natureza, mas pela ação da construtora do sistema de esgotos, que além dos dois jovens ali soterrados e mortos, a falta de reposição do asfalto transformou aquela importante via pública em um buraco só. O prefeito prometeu solucionar a questão do apertado da hora, pelo menos paulatinamente, enquanto aguarda um relatório da construtora quanto ao segundo problema.
O apertado da hora, que em proporções bem menores faz lembrar o rio Medonho nas cheias, me remonta a um fato ocorrido com um importante líder católico do passado. Era arcebispo de São Luís, dom Carlos Carmelo Motta, mais tarde cardeal brasileiro e condutor da Igreja Católica nas arquidioceses de São Paulo e Aparecida. Dom Carmelo, hóspede de minha bisavó Joaninha Lopes, ferverosa católica, em Victória do Alto Parnaíba, decidiu visitar a mais distante paróquia maranhense com relação à capital do estado. Isso há mais de meio século. Ainda não havia estrada; o transporte mais fácil era pelo rio Parnaíba, de vapor ou balsas rústicas, ou, quem quizesse aventurar ainda mais, como no caso do futuro cardeal, enfrentar o lombo de burro. E foi assim que Dom Carmelo chegou ou quase não chegou a Alto Parnaíba. Ao atravessar o valente rio Medonho, um dos mais importantes alfuentes do Velho Monge, exatamente no chamado Porto da Cigana (onde uma cigana teria morrido afogada e seu espírito ainda vagando por ali), próximo à ponte atual, o religioso e servo de Deus, desconsiderando o conselho de seus guias humanos, desafiou as águas com corredeiras do belo rio e por minutos foi por elas levado com burro e tudo mais, até ser resgatado ofegante e quase desmaiado, próximo da foz com o Parnaíba. Ao se recuperar um pouco e após ter indagado dos companheiros que nome tinha aquele bravo rio, sentenciou o discípulo de Cristo: "Este rio não é Medonho; ele é terrível!".
Se as providências não forem ultimadas e com o inverno chegando forte, com certeza o apertado serei eu e o terrível, o apertado da hora.
Fotos: Carleandro Pereira da Silva
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