sábado, 12 de novembro de 2011

NO INTERIOR TAMBÉM FICOU CARO SER ENTERRADO

Até pouco tempo atrás, em minha terra natal, Alto Parnaíba, no sul maranhense, os caixões para o sepultamento eram feitos por carpinteiros práticos do lugar, sem luxo, praticamente artesanal mas com madeira resistente. Morria uma pessoa, logo na pequena cidade ouvíamos as batidas do martelo, o som do serrote alinhando as peças de madeira, enfim, especialmente nas noites mais escuras e chuvosas, havia uma sensação de sobrenatural além da morte em si.

Ontem mandei comprar um caixão em uma das funerárias existentes em Alto Parnaíba para um amigo da minha família, pai de uma funcionária doméstica da casa de minha mãe, aposentado rural, sem rendas outras a não ser o salário mínimo mensal e mais de uma dezena de filhos, falecido no bairro Santo Antonio, o Antonio Luís da Silva. O caixão mais barato adquiri por mil e trezentos reais, sem contar com a abertura da cova e sepultamento propriamente dito.

Antigamente, quando dos caixões artesanais, todos os prefeitos mandavam confeccionar e sepultar, às expensas da Prefeitura, os corpos de pessoas necessitadas da comunidade. Era o costume. Hoje, a Prefeitura se omite e quando se manifesta, os caixões de péssima qualidade chegam a fazer o defunto se levantar e sair correndo com medo da morada eterna, que, convenhamos, não deve ser nada agradável a ideia materalista de que a vida se resume ao corpo.

A Prefeitura mantém funcionários para o sepultamento no cemitério público, entretanto, se for para a família arcar com mais uma despesa não sai por menos de um mil reais exatamente para alguma firma dos próprios servidores públicos. É, no mínimo, estranho.

No mais, como a chamada civilização das metróploes, o que há de pior já chegou às pequenas cidades brasileiras e morrer no interior do país também ficou mais caro. As pessoas não podem mais se preocupar apenas com a vida, que já é difícil e dura, mas com a própria morte, não a pos mortem, mas o sepultamento do corpo. Será a globolização dos preços caros dos caixões? Ou no Brasil não se pode nem mais morrer sossegado?

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