quarta-feira, 8 de agosto de 2012

CENTENÁRIO DE LUIZ AMARAL - O VERDADEIRO MAÇOM

Se vivo fosse o vitoriense alto-parnaibano Luiz Antônio do Amaral, ou apenas Luiz Amaral, estaria comemorando um centenário de vida terrena agora em 2012. Aliás, o aniversário ocorreu em 08 de fevereiro. Além de escritor, poeta, jornalista, professor, fazendeiro, comerciante, político, Luiz Amaral foi um dos fundadores da Loja Maçônica Harmonia e Trabalho, do Grande Oriente do Brasil, em Alto Parnaíba, da qual orador por muitos anos. De temperamento forte, emotivo, altivo e polêmico até entre as paredes consagadas da Maçonaria o bom maçom e exíminio cronista se levantou. Castro Alves também foi polêmico e autocrítico, assim como Fernando Pessoa.

Encontrei nos arquivos de meu pai, Antonio Rocha Filho, o original de uma carta desabafo e de ensinamentos sobre a conduta de um maçom, homem livre e de bons costumes, de próprio punho escrita por Luiz Amaral em 15 de outubro de 1961. Ela é atual e não deve ser restrita ao mundo maçônico. Pertence à humanidade como ensinamento de vida, de conduta, de princípios, de coragem, de dignidade, de reencontro, da busca e procura do bem e da verdade.

Alto Parnaíba, 15 de outubro de 1961.
Prezados irmãos.
Deus vos inspire sempre sentimentos puros de fraternidade, e que estas se concretizem, dia a dia, na prática do Bem.
Tomo a liberdade de trazer-vos aqui, com o devido respeito, uma comunicação: Vou deixar de frequentar as sessões de nossa Loja. Sair do vosso meio. Privar-me do vosso contato. Até quando, não sei. Deus o dirá.
Faço-o sob a inspiração de um dever.
Nosso templo é sagrado. Não deve dar sombra a hipócritas. Não pode, sem desnível de sua autoridade, sem quebra dos princípios que preconiza, dar abrigo a elementos duvidosos, mentalmente dúbios, espíritos versáteis. Que negam cá fora quanto lá prometem. Esquecem quanto aprendam. Renegam quanto professam. Não. Um templo maçônico - seio do puro amor, reduto da verdade excelsa - não pode acobertar farsantes. Fazê-lo seria desvirtuar-se. Seria profanar-se
Razões de ordem íntima, talvez temperamentais, tem alterado o ritmo de minha vida. Cometo faltas. Pratico, continuamente, erros. Não os saberia dissimular, disfarçar, encobertar, negar. Seria covardia. Antes, os reconheço e confesso. Maçon, estou enganando, mentindo a mim mesmo.
Vossa bondade tolera os meus erros. Essa tolerância cala a reprovação. Minha consciência, porém, os condena. Dói-me. Grita contra ele. Não deve um deliquente estar entre vós. Abusando da vossa paciência.      
Falo aos maçons. Aqueles que verdadeiramente o são. Aos que podem julgar-me.
Por tudo isso é que vou retrair-me. Para lutar contra mim mesmo. Contra o novo e estranho homem que estou sendo. Numa reação sem tréguas contra as forças do mal. Para destrui-las. Para libertar-me. Para recuperar-me.
Liberto, voltarei ao vosso convívio.
Digno de pertencer à Maçonaria, como quem entre vós o seja, voltarei ao seio amigo dessa mansão adorável, onde só os bons devem ter morada. Voltarei a dossedentar-me nessa fonte bendita onde flúe, fúlgida e límpida, a linfa cristalina do amor, da Justiça e da verdade.
Fraternalmente,
Luiz Amaral".

Também o bom maçom à casa torna. O poeta logo voltou ao Templo de Salomão como um dos mais produtores obreiros da Maçonaria universal. Mesmo se autointitulando temperamental, Luiz Amaral não atacou o próximo sem prévia e até dura autocrítica. Apenas os grandes e os escolhidos são assim. Abaixo o texto original. 

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