sexta-feira, 31 de agosto de 2012

A PADROEIRA DE VITÓRIA DO ALTO PARNAÍBA

Como na maioria absoluta das antigas povoações brasileiras, na velha vila de Nossa Senhora das Victórias não foi diferente. A sua fundação se confunde com a forte influência ainda reinante da Igreja Católica na formação do Brasil, herança dos portugueses, a corte europeia mais carola daquele continente.

A presença da Igreja Católica na formação do hoje município de Alto Parnaíba também foi essencial à futura emancipação política. Uma diferença básica distingue as origens de Alto Parnaíba de outros municípios do interior brasileiro no que tange à formação territorial, e quem descreve essa passagem com detalhes de conhecimento próprio adquirido dos mais antigos povoadores do lugar é o ex-vereador e servidor público municipal aposentado José Alves Ferreira, o Zé de Carreta, hoje com 86 anos de idade, criado pelo ex-vereador e ex-prefeito de Santa Filomena Carlos Lustosa do Amaral, o Carreta, e casado com uma bisneta duas vezes do fundador da vila de Victória, além de genro do major da Guarda Nacional Hamilton Lustosa de Britto (Mitim), um narrador privilegiado de nossas origens, até porque as vivenciou por quase um século de vida. Para Zé de Carreta a povoação que se deu em torno de uma igrejinha católica construída pelos desbravadores à margem do rio Parnaíba provocou o próprio ato de independência do extremo sul do Maranhão do domínio do tenente coronel José Lustosa da Cunha, o Barão de Santa Filomena, já que as terras que formam hoje os municípios de Alto Parnaíba e Tasso Fragoso integravam de fato o território do Piauí, pois na época o Parnaíba era divisa natural dos dois estados somente a partir da confluência do rio Balsas com o Velho Monge. O histriador Corintho de Araújo Rocha e o meu pai, Antonio Rocha Filho, estudiosos de nossa província, também comungavam dos mesmos fatos.

Essa estreita ligação entre a política, o Estado e a Igreja se manifestou acentuadamente na fundação de Alto Parnaíba. As terras que formam o município foram doadas pelo fazendeiro Francisco Luiz de Freitas e sua esposa Micaela de Abreu Freitas em 19 de maio de 1866 diretamente à Igreja Católica, já presente na pequena povoação ribeirinha do Parnaíba, e não ao governo do Maranhão como seria natural. Em todo esse processo funcionava a inteligência e a sagacidade de Cândido Lustosa de Britto (foto acima), sobrinho do Barão de Santa Filomena, natural de Parnaguá, a cuja jurisdição e território as terras em busca da independência pertenciam, nascido na Fazenda Riacho Grande em 1830 e falecido em 1916 na cidade por ele fundada. Cândido já antevia o descaso do poder político maranhense para com a distante localidade, e talvez por isso preferiu que parte da Fazenda Barcelona fosse entregue ao domínio e administração da Igreja Católica. Apenas um registro triste: o túmulo do fundador não mais existe, abandonado pelo poder público municipal no antigo cemitério de Alto Parnaíba.




















A decisão comum de dar a emancipação à pequena povoação, o que somente ocorreu em 09 de julho de 1871, em que política e religião se interagiram até no nome escolhido para o nosso povoado, futura vila, frequesia e município. Primeiro a homenagem à mãe de Cristo; depois a independência com relação ao domínio de Parnaguá, representado na região pelo Barão de Santa Filomena; por último e provavelmente a razão principal o fato da esposa de Cândido Lustosa de Britto se chamar Ana Victória, que, segundo historiadores natos, era uma mulher forte, determinada, ouvida pelo marido até nas decisões políticas. Ana Victória Vargas Lustosa de Britto morreu antes do esposo. Vitória deu nome ao povoado e tornou-se a padroeira de todos os vitorienses e hoje alto-parnaibanos (imagem acima de nossa primeira igreja, situada na Praça coronel Antonio Luiz)

Foto: consagração do atual templo matriz da Igreja de Nossa Senhoria das Vitórias em julho de 1968. Da esq p/di: Ceir Pacheco (de terno), padrinho, bispo de Balsas, Dom Rino Carlesi (presidente da cerimônia) e minha mãe, Maria Dacy do Amaral Rocha (de preto), madrinha do evento. Imagem: arquivo do blog

 
Já estamos comemorando, católicos ou não, os festejos de nossa padroeira, felizmente a mesma. Mudaram o templo matriz da Igreja, o que sempre lamentei. A primeira igreja continua de pé e com o nome de outra santa, também mãe de Jesus Cristo. O templo da atual matriz é mais imponente e sofreu reformas recentemente. Até o próximo 08 de setembro a cidade estará lotada de famílias do interior do municípios, filhos e descendentes de nossa terra que moram em outros lugares, visitantes, turistas, enfim, é uma festa cultural, popular, histórica, com atividades que não se restringem apenas às celebrações. É uma boa pedida.

Fonte: PACHECO, Carmélia. História de Minha Terra, e Outras Histórias de Ontem e de Hoje, 2012, p. 14 e 12 (foto do fundador Cândido Lustosa de Britto - arquivo da autora).         

Fotos Igrejas: Candido Henrique Noronha        

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