Se vivo estivesse neste ano, Ceir Pachêco faria cem anos de vida. Nascido em 05 de dezembro de 1909 na cidade piauiense de Floriano, à margem do rio Parnaíba, filho de Francisco Pachêco Soares e de Emília de Jesus Pachêco, seu Ceir faleceu já idoso e ainda lúcido, em 03 de agosto de 2004.
Ceir Pachêco e meu pai, Antonio Rocha Filho, eram grandes amigos, e alguns momentos presenciei, pois, como filho mais novo, praticamente não saía de perto de meu falecido genitor. O banho diário e nos finais da tarde na barra do brejo (encontro do Rapadura com o Velho Monge), então porto dos homens e hoje bar da Pitica, era sagrado. Ali a conversa amena, o fechamento de negócios, a necessidade de não deixar Alto Parnaíba se acabar, quando a maioria de seus filhos e habitantes deixava, aos montes, a velha cidade e a zona rural, rumo a Goiás e outras regiões mais desenvolvidas do país. Ceir e Rochinha não arredaram o pé da terrinha; aqui ficaram, continuaram a investir e a produzir e viram o mais meridional município maranhense ressurgir aos poucos.
Ceir Pachêco aportou - literalmente - na então Victória do Alto Parnaíba ainda nos anos 1920. Era comerciante (espécie de vendedor ambulante) e transformou-se com o tempo em dono de balsas e vapores, as embarcações utilizadas no navegável Parnaíba de outrora. De tradicional família de Floriano, a cidade pólo regional e comercial da época, Ceir mantinha uma intensa atividade de compra e venda de produtos em cada porto e em cada cidadezinha, fazendas e povoados nas duas margens do maior rio genuinamente nordestino, tanto no Maranhão como no Piauí.
Na década de 1930, Ceir Pachêco contraíu núpcias com dona Leny do Amaral Brito, filha do capitão da Guarda Nacional, Daniel Lustosa de Britto, com Ana Cândida Lustosa do Amaral Britto (Candoca), a mais tradicional família alto-parnaibana, com quem teve os seguintes filhos: Francisco Ivens, Carmen, Carmélia, Hermes, Seir Filho, Paulo Robert e Daniel, todos vivos e criados dentro de princípios rígidos de moral, honestidade, trabalho, probidade, fé cristã e dignidade.
Empreendedor, era um típico ganhador de dinheiro. Honesto, também foi político. De posições firmes, se fez respeitar. Com certeza, o último bom coronel de Alto Parnaíba.
Fazendeiro, dono de muitas terras, comerciante até a morte, mantendo a mesma Casa Pachêco, ao lado da casa grande na praça central de nossa cidade, a Coronel Adolpho Lustosa, que já pertencia ao filho Paulo Robert do Amaral Pachêco, mas cuja presença do patriarca chamava a presença de amigos contemporâneos e de gente mais nova, admiradores daquele homem às vezes duro, porém amável, cordial, de conversa agradável, que viveu in loco muitos fatos que marcaram a história das viagens pelo Parnaíba, das longas caminhadas dos vaqueiros e pecuaristas para ir vender o boi até no Rio Grande do Norte e de lá, traziam o sal e outras mercadorias, que vendiam nos caminhos, em Victória e no oeste da Bahia e norte de Goiás, hoje Tocantins.
Na vida pública, Ceir Pachêco foi vereador, presidente da Câmara Municipal e prefeito municipal por um período de um ano e nove meses, durante o Estado Novo de Vargas. Meu pai dizia a mim e aos meus irmãos da correção e da honestidade extremada desse piauiense que também gostava de música e de futebol, tendo sido um dos fundadores e principais jogadores de um dos primeiros times de Victória.
Tive o privilégio de conviver com esse extraordinário alto-parnaibano de coração. Já advogado em Alto Parnaíba, participei de uma sessão maçônica na Loja Harmonia e Trabalho, da qual seu Ceir foi um dos fundadores, cujo convidado especial era o já maçom aposentado Ceir Pachêco. Ali entrou e se portou, em gestos, passos e palavras, sem se esquecer de nada, como um dos mais completos obreiros que conheci. Em outra oportunidade, chamou-me à sua casa e na qualidade de irmão e tio de Ordem Maçônica, de amigo de meu pai e de um dos condutores de nosso povo, deu-me um conselho com altivez, verdades e ternura. Segui o velho amigo e não me arrependi. Ele estava certo.
Seu Ceir era padrinho de batismo, ao lado de dona Leny, de minha mãe, Maria Dacy. Era da geração e conviveu com figuras extraordinárias de nossa região, como Elias Amaral, Luiz Amaral, Eurípedes Coelho, José Soares, Lourival Lopes, Aderson Brito, Izidoro Rolim, João Leitão, Elias Rocha, Carlos Amaral, João Vargas, Clóvis Vargas, Candinho Brito, José Benedito Rocha, Luiz Carvalho, Luiz Vargas, Mundico Almeida (que fez agora 90 anos de vida), Otacílio Mascarenhas, Dr. Aluizio Ribeiro, Antonio Luiz Avelino, Estevam Robinson Dias (Rubim), Caio Alencar, Corintho Rocha, Rochinha, Antonio Luiz Lustosa (ali em Lizarda pleno de lucidez e de simpatia), Jeconias Barreira (Capucho) - com mais de 90 anos, vivendo na mesma Tasso Fragoso -, seus irmãos Hermes e Wagner Pachêco e tantos outros.
Como eu disse anteriormente, mesmo com mais de dez anos de diferença de idade, seu Ceir e meu pai eram amigos na mais completa acepção do termo. Não tiveram, entretanto, a satisfação de verem aqui - no outro plano, com certeza aplaudem -, a união matrimonial de seus netos, André, filho de Carmélia com Gideon Lyra, e Maria Dacy, filha de Júnior com Tânia Maria - foto ao lado. É a continuação natural de uma vida alicerçada na lealdade e na amizade.
Seu Ceir é uma dessas pessoas autênticas e trabalhadoras que deixam um vazio quase impreenchível em qualquer sociedade. Trabalhou até os últimos dias. Produzia. Era verdadeiro. Era correto em seus negócios. Era útil a Alto Parnaíba. A família Pachêco e a comunidade alto-parnaibana foram abençoadas pelo Criador em terem tido Ceir Pachêco no seu convívio.
quarta-feira, 19 de agosto de 2009
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Endosso por completo o Belo Perfil de Seu Ceir Pacheco.
ResponderExcluirGrande Cidadão, Grande Soldado de Cristo, Grande Homem de Bem.
Convivi com esse Honrado e Honesto Homem...
Caro Décio, obrigado pela homenagem
ResponderExcluirNão há como não se comover ao buscar, em nossa mente, lembranças deste verdadeiro Homem...
ResponderExcluirPara sempre será exemplo.
Parabéns pelo texto.
Décio, obrigada pela mensagem de carinho sobre meu pai Ceir. Ele era realmente um grande homem e muito amigo de sua família, em especial do Sr. Rochina. Ceir soube passar para os seus filho o valor da honestidade, do amor e da amizade, fez com muita sabedoria, porque ele vivia isso. A vida de Ceir foi difícil em muitos momentos, mas soube suportar, pois ao seu lado estava também uma grande mulher. D.Leny era afável, amava a todos, carinhosa e mãe extremosa que soube compartilhar com seu companheiro todos os momentos de sua passagem aqui na terra.
ResponderExcluirAcho essencial as homenagens às pessoas que foram e continuarão sendo, em nossos corações, cidadãos de bem. São exemplos para a nova geração, de honestidade, trabalho e educação. Parabéns pelo artigo tio, é merecido!!!
ResponderExcluirCaro Décio, agradeço, sei que em nome de todos os meus irmãos e irmãs, pela homenagem ao Seu Ceir. Se ele representou alguma coisa para a querida Alto Parnaiba e para os amigos, para nós filhos ele continua a ser um exemplo: lealdade, trabalho, honestidade e amor a familia.
ResponderExcluirCaro Décio, li sua reportagem sobre o centenário de papai e agradeço as palavras carinhosas para com ele,Ceir Pacheco, com mamãe Sra Leny Pacheco e com toda nossa família. Realmente a amizade sincera entre papai e a familia Rocha sempre existiu e perpetuou entre seus descendentes.
ResponderExcluirObrigada mais uma vez pelo carinho e um grande abraço Carmen