Ontem estive visitando o distrito de Matas, zona rural de Santa Filomena, em companhia do vereador José Damasceno Nogueira Filho e de outros três amigos, Ivan Brito Filho, Paulo Roberto Souza Silva Júnior e João Ricardo Alves Rocha. Passamos o dia entre o trajeto de uma hora de carro, cortando um cerrado de terras férteis, já tomado pela agricultura de grande porte, baixões e velhas fazendas que desafiam os tempos, e conversando amenidades com a gente do lugar, visitando e conhecendo o privilégio de uma região que nada tem a ver com o resto mais pobre do Piauí .
A beleza do verde invernoso dá lugar à poeira em uma estrada de barro, areia e pouco cascalho, com um sol forte e ventos que suavizam o calor. A estrada é a rodovia federal BR-235, nunca construída e que representa lamentavelmente a falta de compromisso da maioria dos políticos do Piauí, de todos os governadores no decorrer dos tempos, de deputados e senadores que somente aparecem no período eleitoral. É uma pena que o mais rico cerrado piauiense e um dos mais importantes do país, onde a classe de agricultores investe maciçamente e produz soja, milho, feijão, arroz e algodão, não tenha a contrapartida dos governos do estado e da União. Até a a empresa para construir e pavimentar um trecho de 120 km entre as cidades de Santa Filomena e Gilbués teria vencido a licitação. O dinheiro estaria em caixa e disponível. Mas a verdade é nua, crua e poeirenta: a estrada não sai do papel e das promessas pouco responsáveis de homens públicos que não têm o direito de mentir.
No mais e deixando de nos aborrecer com essa gente sem credibilidade que transforma o Piauí em um estado cada dia mais atrasado, assim como o Maranhão, é salutar verificar a vontade de trabalhar de homens e mulheres da terra e dos migrantes. No caminho, mineradoras de calcário, com operários trabalhando sem parar; a procura crescente pelo produto natural, que ajuda a modificar o solo e fazê-lo mais produtivo. No caminho, os agricultores dando início ainda timidamente para a próxima safra, que promete mais um recorde de grãos. Na sede do distrito, um belo calçamento de bloquete, iniciativa da Prefeitura Municipal em convênio com o Governo Federal, cuja conclusão do primeiro projeto de urbanismo das Matas deve-se ao prefeito Esdras Avelino Filho, sem esquecermos de seu antecessor, o médico Ernani de Paiva Maia, que construíu a primeira ponte de cimento sobre o rio Taquara, um dos principais alfuentes do Parnaíba. Ali também energia elétrica, telefone público, uma boa escola municipal e um posto de saúde que necessita ser reativado. Rica em terras, em água perene e abundante e em madeira de lei, a velha Fazenda Matas, centralizada principalmente em duas grandes famílias, está crescendo. O seu povo é trabalhador. O Zé Baixinho, por exemplo, está produzindo, com a esposa e irmãos, milho verde nesse período do ano. O Nonatão está iniciando uma pequena irrigação. Ubiratan e seus sogros, Dona Diná e seu Zé de Sabino, mesmo aposentados rurais por idade, vendendo fava colhida agora. A energia de razoável qualidade e a as águas do Taquara e do Mateiro, que no distrito se juntam, promovem essa possibilidade da produção irrigada - além das naturais vazantes que não ferem o meio ambiente - de melancia, milho, fava, feijão, mandioca, abóbora e outras verdaduras e legumes. É a união do grande, do médio e do pequeno produtor, fazendo a terra produzir e cumprindo com o papel social e constitucional da mesma terra.
Conversei com muitos moradores de Matas. É uma gente alegre e otimista, como o setanejo em geral. Uma comunidade que continua acreditando, mesmo sem otimismo empolgado como d'antes, na construção da BR-235. Uma sociedade que também clama pela presença de um posto policial, visto a onda de violência por parte de pessoas de localidades vizinhas, que chegam a aterrorizar a pacata comuna da sede do distrito. Levarei essa justa reivindicação à Secretaria de Segurança Pública do Piauí através da OAB piauiense.
O mais impressionante, entretanto, é a magnitutude do Vale do Taquara. No retorno, viemos pela estrada de baixo, cortando velhas e novas fazendas de gado e roças de rurícolas que aproveitam as vazantes do vale para produzir até no período de seca. Naquela parte a energia elétrica não chegou. Aliás, o município de Santa Filomena não possui um único metro do programa luz para todos do governo Lula. O gado é gordo. Pequenos e médios produtores ainda promovem as chamadas moagens e fabricam a rapadura artesanal - constante de uma excelente matéria do José Bonifácio Bezerra em seu blog no portal GP1. O novo constrasta e convive com o histórico. Belas casas das fazendas e o muro de pedras na Fazenda Ponta da Serra, atualmente de propriedade do ex-prefeito Quirino Lustosa Avelino, ainda construído por escravos. As fazendas com nomes sugestivos e frutos de momentos vividos pelo coronel José Lustosa da Cunha, desbravador daquelas terras e fundador do município, futuro Barão de Santa Filomena. Fazenda Certeza - a certeza da riqueza daquele vale que faz lembrar o Nilo; Salto - apenas um pulo para a então recém iniciada vila de Santa Filomena. Recreio - onde os vaqueiros e fazendeiros pararam para o descanso merecido. E logo ali atrás o Refresco, hoje pertencente ao bom cidadão Damasceno Lustosa Nogueira, para aliviar a alma e o físico.
Uma viagem em estrada de barro, melhorada pelo atual prefeito Esdras Avelino Filho, mesmo com poucos meses de governo. Um passeio e um recreio, um pulo apenas no presente, no futuro e na história - ali a velha Fazenda Recreio, situada por meu bisavó e também advogado, Leopoldo Lustosa da Cunha, filho do barão, pai de minha avó paterna, Ifigênia. A certeza de que a barragem que o governo Lula quer construir na foz do Taquara com o Parnaíba não será imposta sem reação, sem discussão, sem respeito à história, à cultura, à geografia, às terras, aos ribeirinhos, aos trabalhadores e trabalhadoras daqueles rincões. Aquele povo tem tudo; é o dono dali; não precisa de barragens; precisa do asfalto; de um posto médico; de um transporte de qualidade; da expansão da rede elétrica. Aquela gente sabe trabalhar a terra e preserva a ecologia e o meio ambiente. Quem ainda quiser conhecer um pedaço espetacular do Brasil visite o vale do Taquara no município sul piauiense de Santa Filomena. APENAS UM PULO.
terça-feira, 18 de agosto de 2009
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Como eu já havia comentado em outro artigo, torno a falar: Tanto Alto Parnaíba como Santa Filomena são ricas em histórias e território. Possuem uma natureza linda! O melhor de tudo é respirar esse ar tão puro. Confesso que não sabia que ainda haviam propriedades construídas pelos escravos, construções históricas. É encantador e não deixarei de visitar e estudar essa localidade. Fico feliz em saber que mesmo com dificuldades, as pessoas continuam lutando.
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