quinta-feira, 13 de agosto de 2009

ABUSO DE OTORIDADE

Mais um abuso de autoridade - ou otoridade como os mais indignados chamam tais elementos -, voltou a ser noticiado pela grande mídia brasileira. Trata-se de um procurador do Estado do Pará, que, visivelmente embrigado, após certa confusão foi conduzido a uma delegacia de polícia em Belém e ali, devidamente filmado para o bem de uma nação que deseja se reconstruir, considerando-se acima do bem do mal, confundindo-se com o próprio Estado, humilhou um policial, desacatou o delegado, usou de palavrões e externou todo o preconceito acumulado e enrustido - o álcool serve pelo menos para revelar o que realmente os covardes e arbitrários sentem e gostam. Mais um caso grave que, infelizmente, logo será esquecido no vasto anedotário do cotidiano no Brasil.



Se n'uma metrópole como Belém tais abusos ainda são cometidos, mesmo os fatos sendo registrados por câmeras, imaginem no interior mais esquecido do país. Já testemunhei absurdos imperdoáveis, inimagináveis e que tomariam, com certeza, se registrados, as páginas e as telas de nossa imprensa. Em uma audiência, não muito distante, presenciei o destempero de um jovem juiz, demonstrando sua imaturidade e ao mesmo tempo, a sensação perigosa do poder de prender, de ser o próprio Estado e não mais um agente deste, e voltando-se contra senhoras donas de casa, algumas com idade de serem avós do dito cujo, sem qualquer razão plausível - apenas um atraso mínimo em um ato cível quando os maridos, também autores da demanda, já se encontravam no fórum e na sala de reuniões -, ameaçou a todos de prisão, de camburão, de algemas, etc., n'um transtorno de personalidade que me fez estremecer ao imaginar - como essa autoridade poderá julgar um semelhante?



Sobre o mesmo juiz, pessoas que presenciaram uma outra cena deplorável, principalmente gente simples do povo, até hoje têm medo de fóruns. Segundo consta, em uma audiência de investigação de paternidade, a otoridade voltando-se para a autora da ação, uma adolescente grávida, ameaçando de cadeia e com dedo em riste, produzira um espetáculo degradante, impróprio com impropérios impublicáveis, tais como: por que você abriu as pernas, sua v...? você não sabia o que o homem carrega entre as pernas, sua s...? Daí por diante. Como não estava presente, não declino o nome da autoridade e nem representei contra o mesmo.



Fatos como esses são comuns em pequenas cidades do sertão, sem emissoras próprias de rádio, de televisão, sem jornais, longe das capitais e de outros grandes centros urbanos. A internet começa a encurtar essa distância que afasta ainda mais a cidadania dos interioranos. Esses abusos não são cometidos apenas por juízes, promotores, delegados, mas até por agentes administrativos. Quase todos ao chegarem com alguma delegação pública nos pequenos municípios logo se vestem de uma superiordade que, se não fossem graves as suas atitudes, seria até cômico.



Agora, se as otoridades não se cuidarem passarão pelo constrangimento de serem respondidas à altura e com o rigor moral e a altivez dos nossos sertanejos. E isso não é de hoje. Certa feita, n'uma eleição, as pessoas com mais de 65 anos de idade de Alto Parnaíba/MA foram proibidas de votarem. Decisão local. Sem telefone, televisão, internet e nem mesmo luz elétrica, não havia outra alternativa a não ser obedecer. Os idosos, humilhados e sem poderem exercer o consagrado direito ao voto, eram sumariamente despachados das seções e retornavam cabisbaixos aos seus lares. Uma senhora com quase 80 anos se digiu ao local onde iria votar. Foi barrada pelo próprio autor da esdrúxula decisão (mesmo para o período ditatorial de 1964). Disse-lhe a autoridade que não liberaria sua folha de votação. A octagenária reagiu indignada: vou votar, sim, otoridade corrupta! E Ifigênia do Nazareth Rocha, para minha honra a avó paterna que conheci bem pouco, votou e fez com que todos os idosos votassem; a otoridade ficou a ver navios.

Breve voltarei ao tema com outros casos que são de arrepiar. É preciso, entretanto, que os cidadãos e cidadãs reajam e se lembrem permanentemente de uma coisa - quem paga o salário de todos os servidores públicos, inclusive dos boçais, é a população brasileira. O patrão... somos todos nós.

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