terça-feira, 25 de agosto de 2009

CHUVAS DE CAJÚ E DE MANGA

Na região do Alto Parnaíba maranhense e piauiense só existem duas estações climáticas anuais - o verão e o inverno. Ou chove ou o forte sol deixa o clima seco e quente durante o dia; nas noites, a temperatura diminui significativamente, propiciando um ambiente extremamente agradável.

Antes do início do inverno, somos abençoados pelas chamadas chuvas que anunciam a safra de cajú e de manga. Até pouco tempo, os cajueiros antecipavam às mangueiras, e deliciavámos primeiro o mais típico fruto tropical. Agora, com a mudança do tempo, as chuvas vêm no mesmo período. Essas chuvas, que não são intensivas, já começam a banhar os municípios de nossa região, mais precisamente Alto Parnaíba, Santa Filomena e Tasso Fragoso.

As chuvas do cajú e manga também dizem ao nosso sertanejo de como será a safra de grãos e o inverno que sempre se inicia em novembro. É o ensinamento natural, bússola do homem do campo.

Os cajueiros e mangueiras são nativos em nossa região. Na parte velha de Alto Parnaíba, onde a cidade teve o seu começo, na Pontinha, à margem do Parnaíba, mangueiras centenárias desafiam o tempo, o fogo, a falta de cuidados. Temos ainda uma espécie raríssima, denominada por nossos antepassados apenas de manguita, principalmente na antiga rua da Areia e na desabitada rua Cândido Lustosa, cujas casas foram destruídas ou abandonadas por seus donos em razão das cheias do Velho Monge. A mais deliciosa de todas as mangas a manguita (como o nome sugere é um fruto pequeno) - gosto não se discute e muitas vezes não se explica - é nascida de uma mangueira no antigo quintal de Ritinha Maia, a popular Titizinha, na agradável morada que a dona, uma católiga fervorosa e amante da natureza, carinhosamente chamava de Paraisinho. Titizinha nos deixou há trinta anos; a velha mangueira continua em pé e cumprindo sua missão - alimento farto e saboroso a cada ano.

Também temos uma manga comum, denominada de manga de sumo (como se todas não fossem). É saborosa. Em Alto Parnaíba, quase ninguém vende mangas e cajús. É de graça. Todos se fartam, principalmente a criançada. Dizem os mais velhos que o capitão Hamilton Lustosa de Britto, o tio Mitim, uma figura simpatíssima que tive o prazer de ainda conhecer já ancião, degustava, cortadas de faca, mais de vinte mangas todos os dias, na velha Pontinha. Manga não faz mal à saúde. Tio Mitim morreu com 97 anos de idade. E lúcido.

Como eu disse no início, as mangueiras e os cajuzeiros são nativos no nosso lugar. Nas cidades ou no interior dos municípios, por onde andamos neste período do ano, nas margens das estradas, nas roças, baixões e nos quintais, observamos as árvores frutíferas floridas ou com frutos prontos para serem saboreados. As terras ambém acolhem, sem adubos, essa cultura. Outras espécies foram introduzidas com o tempo; se adaptaram muito bem. Do cajú, além do fruto adocicado, o suco, o doce e a famosa cajuína. A nossa cajuína não perde nem para a decantada cajuína de Teresina. Temos um cajú típico dos cerrados, o cajuí, que é azêdo mas uma delícia quando acompanhado de uma boa cachaça. Da manga, só sobra o caroçoso. E o melhor: é alimento certo e gratuito para todos. Graças a Deus, minha terra tem dessas coisas. Que continue assim.

2 comentários:

  1. Dr Décio nos delicia com esse maravilhoso Artigo-Cronica, Q já vem com o sabor dos Frutos Temporãos.
    Voltei a minha Infancia,parte dela vivida nos lugares mencionados...
    Aquele Alto Parnaiba já não Existe; Fica a Saudade Indélevel. Como Doi...

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  2. Qual altoparnaibano, mesmo de longe, não se recorda da "chuva-dos-cajus" e da "chuva-das-mangas"?
    É indescritível, se lambuzar com uma MANGA DE SUMO, na beira do Rio Parnaiba, sentindo o maravilhoso cheiro de terra molhada pela abençoada água celeste.
    Realmente, caro José. Já sinto no ar, o aroma do néctar das frutas de nossa terra.
    Cordial abraço.
    Alberto Rocha

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