sábado, 17 de dezembro de 2011

O ADEUS A UM CRAQUE DO PASSADO

No mesmo dia em que o fórum da comarca de Alto Parnaíba, no sul maranhense, estava sendo inaugurado, em 12 de dezembro, construído em parte do terreno onde existia o nosso primeiro campo de futebol amador, estava sendo sepultado o corpo de João Batista, morto no domingo, que por muitos anos foi um craque de nosso futebol naquele campo de terra batida e também morador da vizinhança de um dos locais esportivos que marcou várias gerações de alto-parnaibanos.

Já octogenário e bastante doente, João Batista, o pé grande ou pé de janta como carinhosamente era tratado e conhecido em nossa comunidade, era uma figura interessante e marcante na vida local. Frequentador da casa de meus pais e de nossos vizinhos Gentileza e Grigório Lobato Bastos, ele ficava horas se necessário calado, sentado em um canto, sem emitir comentários, ouvindo, como gostava de dizer, palestras de pessoas que considerava inteligentes, não por mera curiosidade, mas como aprendizado.

Uma outra faceta do nosso jogador pé de janta - apelido dado em razão dos pés avantajados que driblava e se comunicava com a bola de futebol como poucos - foi em campo, n'um jogo dos times do Verde e Encarnado, lá pelo final dos anos 1940. Ceir Pacheco, outro apaixonado pelo esporte mais popular do Brasil, trouxe de Floriano um par de chuteiras (ou equivalente) novo e decidiu estreá-lo em um domingo no início da tarde (os jogos não eram necessariamente às 17 horas). Do lado adversário, o João Batista com seus enormes pés descalços, acostumados a amassar o barro de louça na preparação das artesanais alvenarias em nossa ainda existente oleria coletiva e de tangerino de gado em caminhadas quilométricas a pés. O encontro parecia inevitável e de fato o foi. Na divisão de uma bola, com a população da pequena cidade quase toda na plateia, as chuteiras de Ceir e os pés descalços de pé de janta se chocaram. Resultado com misto de ficção que virou causo popular: seu Ceir teve uma chuteira rachada. João Batista, sem nenhum machucado nos pés, ainda chamou, balbuciando, o oponente de bruto.

Em Alto Parnaíba, então Victória, como as refeições eram as tradicionais e o café da manhã, ou quebra-jejum, era servido - café, leite, beijú, cuscuz de milho ou de arroz era a base - a partir das 5 da manhã e o almoço, às 11 horas, a espera pela janta era demorada, comprida, n'uma espera enorme. Daí o pé de janta de João, casado com Eunice, também morta, pai de Savinho, também desencarnado, de Leila Sandra, Rosa Helena, Neto, dentre outros, uma personagem real que deixa saudades. O meu adeus ao grande amigo João Batista.

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